domingo, 6 de fevereiro de 2011

Marcelo.1

Marcelo um dia chegou em casa do colégio e pela porta de seu prédio entrou uma mulher desconhecida. Marcelo disse oi mas a mulher em troca só levantou as sobrancelhas. A despeito de ter se sentido um tanto diminuído Marcelo lhe abriu a porta e lhe deu passagem pois desejava no futuro se tornar um cavalheiro. Um desses homens dos quais as mulheres à sua volta levantam as sobrancelhas para dizer: este vale a pena porque é de fato um cavalheiro.
A mulher entretanto não parecia muito ciente dos futuros propósitos de Marcelo. Sem agradecer a gentileza e na verdade sem sequer virar os olhos para o garoto a mulher se lançou às escadas como quem espera por isso há muito tempo. Marcelo seguiu de longe com sua ansiedade e subiu os degraus de dois em dois como a mulher até o quarto andar. O maior medo de Marcelo naquele momento era o de perdê-la. Não vê-la nunca mais. Era horrível a possibilidade e contudo ela corria escadaria acima como se nunca nessa vida fosse olhar para trás. Seu cabelo vivo ruivo e cheio enchia o campo de visão todo de Marcelo numa massa amorfa degraus acima de dois em dois até o último andar quando ela por fim parou no apartamento de Davi.
Marcelo quase ofegando para segui-la não muito de perto mas também não muito de longe chegou ao quarto andar e ao apartamento na frente do de Davi. Isso porque Marcelo morava no apartamento na frente do de Davi e Marcelo demorou a encontrar a chave de casa. A campainha de Davi a mulher já a tocara. Marcelo não queria se separar da mulher nunca mais. A ideia lhe causava horror. Pensou em se voltar e chamá-la. Qual o seu nome ou qual o motivo para ter vindo até aqui. Não vai embora não entra por essa porta. Marcelo deixou a chave cair no chão. Nisso a mulher tocou de novo a campainha. Talvez Davi não estivesse em casa. Talvez não atendesse nunca mais. A mulher se impacientando virou-se para trás e pela primeira vez reparou em Marcelo. Marcelo estava agachado recolhendo a chave no chão. Marcelo estava envergonhado e ao mesmo tempo hipnotizado. Davi abriu a porta. A mulher pulou em seu pescoço e lhe estalou um beijo na cara. Nisso a mãe de Marcelo abriu a porta pois estava também saindo justamente naquele momento. A mãe de Marcelo se admirou da coincidência e Marcelo se sentiu afinal o mais infeliz dos homens.